quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

BATISMO E PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO - John R. W. Stott


Faz agora onze anos desde que o pastor Peter Johnston convidou-me para falar à Conferência de Islington sobre a obra do Espírito Santo. Minha palestra foi depois ampliada e publicada sob o título O Batismo e Plenitude do Espírito Santo.
Desde então, continuou se espalhando o movimento que por alguns é chamado de "neopentecostal", mas pela maioria de "carismático". Agora ele é um fenômeno de alcance mundial, e tem como líderes pessoas muito respeitadas. Não é possível analisar o cenário eclesiástico contemporâneo sem levá-lo era conta.
Não pare haver dúvidas de que Deus usou este movimento para trazer bênçãos a um grande número de pessoas. Muitos cristãos dão testemunho de terem experimentado amor e liberdade novos, uma soltura interior das amarras da inibição, uma alegria trasbordante e paz na fé, um sentimento mais acentuado de que Deus é real, uma comunhão cristã mais calorosa do que tinham conhecido antes, e um zelo renovado na evangelização. Este movimento é um desafio saudável para todos os cristãos que levam uma vida cristã medíocre e para todas as igrejas que têm uma vida enfadonha.
Ao mesmo tempo foram feitas avaliações cuidadosas, de diversos pontos de vista. Muitas vezes os líderes carismáticos são os primeiros a admitir que tem havido algumas causas de inquietação e que a tarefa do debate teológico sério apenas começou. Uma das dificuldades para uma discussão contínua é que o movimento carismático não é uma igreja ou associação organizada, com fórmulas doutrinárias oficiais. As igrejas pentecostais, que surgiram a partir do começo do século, têm confissões de fé publicadas, às quais seus pastores precisam se ater. Porém o movimento carismático anda é bastante independente e seus líderes e membros não estão sempre totalmente de acordo entre si em questões teológicas. Parece que alguns adotam uma posição totalmente "pentecostal", praticamente sem diferença se comparada à das igrejas pentecostais. Outros dizem ter tido o que eles gostam de chamar de experiência "pentecostal", que, no entanto, não formulam em termos da "teologia pentecostal" clássica. Ainda outros estão passando por um estado de mudança em sua própria maneira de ver as coisas, ainda procurando a forma más adequada de expressar teologicamente suas experiências.
Uma tal flexibilidade é muito bem-vinda, em parte porque ela é um sinal de abertura, e em parte porque deve impedir que alguém polarize a situação entre "carismáticos" e "não-carismáticos", já que parece que um número cada vez maior de pessoas tem um pé era cada um dos lados. Porém, mesmo bem-vinda, esta fluidez também torna a tarefa da avaliação mais difícil, pois nem sempre está claro a quem ou sobre quem estamos falando. Desde já quero desculpar-me se algum cristão que se intitula "carismático", ao ler estas páginas, não se reconhece no que escrevi! Eu só posso garantir que tentei ser objetivo e honesto, coletei informações de pessoas e literatura atual, e de forma alguma quis ridicularizar alguém.
Agora deixe-me explicar o motivo pelo qual eu rescrevi o livreto anteriormente publicado. Quais são as razões de uma segunda edição?
Em primeiro lugar, ao reler o que escrevi há onze anos, algumas partes pareceram-me obscuras e outras fracas, e o todo deu a impressão de estar incompleto. Portanto, tentei esclarecer o que estava obscuro e reforçar o que estava fraco. Especificamente, dividi o material original em dois capítulos, agora intitulados "A Promessa do Espírito" e "A Plenitude do Espírito". Expandi o material destes capítulos dando ênfase em convicções comuns e indicando em quais áreas as diferenças continuam. Depois, acrescentei material novo era dois capítulos intitulados "O Fruto do Espírito" e "Os Dons do Espírito".
A segunda razão é mais pessoal. Durante os últimos anos, recebi regularmente cartas de pessoas que dizem ter ouvido que mudei de ponto de vista, depois que escrevi O Batismo e Plenitude do Espírito Santo. Não é verdade. A edição revista me dá a oportunidade de corrigir este falso rumor.
Em terceiro lugar, seja qual for nossa posição era relação a este assunto, todos precisamos permanecer em comunhão frutífera e em diálogo com os outros. Ninguém acha isto fácil. É preciso ter maturidade considerável para estabelecer e manter um relacionamento pessoal cordial com pessoas que não vêem as coisas como nós. Em uma conferência recente, achei oportuno confessar minha imaturidade, tanto por ter sido negativo demais em relação ao movimento carismático, quanto por ter relutado em ir até seus líderes e dialogar com eles. Em seguida, mencionei três áreas que me pareciam ser uma base de comum acordo para continuar o diálogo. Pode ser proveitoso o fato de registrá-las aqui.
A primeira é a objetividade da verdade. Vivemos em tempos muito subjetivos, em que o existencialismo faz uma distinção radical entre vida "autêntica" e "inautêntica", usando critérios completamente subjetivos para determinar o que é "autêntico", ou seja, o que a mim parece autêntico neste momento. Todavia cristãos, especialmente cristãos evangélicos, estão convictos de que Deus falou histórica e objetivamente, que sua Palavra culminou em Cristo e no testemunho apostólico a respeito dEle, e que a Escritura é exatamente a Palavra de Deus escrita para nosso aprendizado. Portanto, todas as nossas tradições, todas as nossas opiniões e todas as nossas experiências precisam ser submetidas ao exame independente e objetivo da verdade bíblica.
A segunda é a centralidade de Cristo. Todos concordamos também nisto, pelo menos em teoria. Nossos olhos foram abertos para ver a verdade como ela é em Jesus, e nossos lábios para confessar que ele é o Senhor. Não ternos dificuldades para endossar as grandes afirmações do apóstolo Pauto em sua carta aos Colossenses, de que Jesus Cristo é o Cabeça do universo e da igreja; de que o propósito de Deus é que ele possa "em todas as coisas ter a primazia" (1:18); de que "nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade (2.9); e de que nele recebemos "a vida completa" (2:10, BLH).
Entretanto, não é suficiente concordar somente com os lábios com estas afirmações sobre a supremacia e suficiência de Cristo. Todos precisamos ir adiante e estabelecer as implicações disto. Alguns cristãos dão a impressão de basear-se numa doutrina de "Jesus e", tal como: "Você veio a Jesus, o que é muito bom; porém, agora, você precisa de algo mais para completar este passo". Outros dão tanta ênfase à suficiência de Cristo que parecem ter um conceito estático da vida cristã, que não dá espaço nem para um crescimento em maturidade, nem para experiências mais profundas e completas com Cristo.
A terceira área era que devermos concordar é a diversidade da vida. Isto é, o Deus vivo da natureza e da Escritura é um Deus de diversidade rica e colorida. Ele fez diferente cada ser humano, cada folha de grama, cada floco de neve. Por esta razão, eu confesso que, quanto mais eu vivo, mais hostil me torno a qualquer estereótipo. Todavia, parece que alguns de nós estão ansiosos em forçar todos a dançarem conforme a sua música, e em enquadrar os outros em seus padrões. Será que isto não é sempre reprovável? Minha convicção, que tentarei expor nas próximas páginas deste livro, é de que há uma variedade grande de experiências espirituais e uma variedade também grande de dons espirituais. Se renunciarmos ao desejo de aprisionar os outros em camisas-de-força, encontraremos uma nova liberdade e uma nova comunhão no Deus da diversidade abundante.
Finalizando, quero deixar bem claro que meu propósito com este livro não é fazer polêmica, porque sou um homem de paz, e não de guerra. Se às vezes fui negativo, isto ocorreu somente para esclarecer a verdade positiva correspondente. Também levantei algumas perguntas que, segundo me parecem, precisam ser feitas e respondidas. Mas não tenho a intenção de ferir ou confundir ninguém. Minha preocupação é tentar expor certas passagens importantes da Bíblia. E meu objetivo nisto é que todos possamos compreender melhor a grandiosidade da nossa herança em Cristo, para que nos apossemos dela de maneira mais completa, bem como a extensão da nossa responsabilidade em manifestar todo o fruto do Espírito em nossa vida, e em pôr em prática os dons do Espírito que ele, em sua soberania graciosa, nos concedeu.
Abril de 1975
J.R.W.S.





Texto retirado do livro BATISMO E PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO - John R. W. Stott - Editora: Vida Nova . Preço R$ 19,90 no site http://www.gospeltop.com.br/livros/aconselhamento/livro-batismo-e-plenitude-do-espirito-santo.html

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