Paulo, chamado para ser apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Sóstenes, à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Graça seja convosco, e paz, da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. (I Corintios 1:1-3)
A carta começa, como era costume então, com a apresentação e a saudação de quem escreve. Paulo se apresenta primeiro a si mesmo como o escritor da carta e logo apresenta e saúda aos corintios, os destinatários da carta. Finalmente, o apóstolo apresenta sua mensagem, resumindo em seu desejo para os corintios: graça e paz de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo.
Em nove das treze introduções das suas cartas, Paulo se apresenta como apóstolo de Cristo pela vontade de Deus ou por mandamento de Deus. Na saudação inicial desta carta, ainda que Paulo inclua Sóstenes na sua saudação à igreja, só aplica a si mesmo o título de “apóstolo de Jesus Cristo”, enquanto que a Sóstenes o chama de irmão.
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Há muita confusão na igreja atual sobre a palavra “apóstolo”. No Novo Testamento este termo é usado em três sentidos. Em somente um versículo se aplica a todos os crentes, em João 13:16, onde Jesus disse que aquele que é enviado não é maior do que quem o enviou. A palavra “enviado” é traduzida do gregoapóst olo. Jesus declara que os cristãos estão comprometidos com a missão apostólica da igreja no mundo. Nesse sentido geral, todo cristão é um apóstolo.
O segundo uso da palavra se aplica aos cristãos como enviados da igreja. Em II Corintios 8:23 e em Filipenses 2:25, Paulo descreve a Epafrodito como seu apóstolo ou enviado. Os “apóstolos da igreja” no Novo Testamento eram o que hoje chamamos missionários, mensageiros do evangelho enviados para uma igreja em particular com uma missão específica.
O uso mais freqüente do termo “apóstolo” no Novo Testamento é no seu sentido restrito, aplicado aos doze apóstolos de Jesus. A este grupo reduzido se somou o apóstolo Paulo, provavelmente Tiago e talvez mais alguns. Não eram apóstolos da igreja, mas sim apóstolos de Cristo, mensageiros que Ele havia elegido e chamado.
Paulo, igualmente aos doze, recebeu este chamado de Jesus Cristo de forma direta e pessoal. Como eles, também era testemunho da ressurreição. É certo que não havia conhecido Jesus Cristo em sua existência terrena; tão pouco teve o enorme privilégio de passar esses três anos formativos com os discípulos de Jesus. No entanto, o Cristo ressuscitado lhe apareceu pessoalmente; sem essa experiência da ressurreição de Cristo, Paulo não poderia ter sido um apóstolo.
Paulo se refere aos seus antecedentes como apóstolo no capítulo 9 da mesma carta aos Corintios, e reitera o mesmo conceito no capítulo 15, ao enumerar as aparições de Jesus depois da ressurreição. Em 15:8, disse: “Por último, como a um abortivo, apareceu a mim”. Ainda que se trata de uma aparição peculiar de Cristo, posteriormente a sua ascensão, Paulo reclama a validez desta circunstância para respaldar seu nome na lista dos apóstolos.
Podemos dizer com toda firmeza que na atualidade não há na igreja apóstolos de Jesus Cristo, porque ninguém teve uma aparição do Cristo ressuscitado. Existem líderes, bispos, evangelistas, pioneiros, missionários e plantadores de igrejas aos quais podemos nos referir como ministros apostólicos. É válido dar-lhes o qualificativo “apóstolo” (adjetivo), porem não lhes corresponde o título de “apóstolo” (substantivo). Há uma diferença fundamental entre aqueles primeiros apóstolos e qualquer mensageiro do evangelho que os tem sucedido.
A igreja primitiva compreendeu muito bem esta diferença. Quando morreu o último apóstolo, a igreja sabia que se iniciava uma etapa nova, a era pos-apostólica. Uma das melhores evidencias disto é o testemunho do bispo Ignácio da Síria, a quem os eruditos localizam ao redor de 110 DC, quando já tinham morrido os apóstolos. Ignácio foi condenado a morte por ser cristão e ia a caminho de Roma, fazia seu martírio. Durante a travessia, escreveu uma série de cartas às igrejas, algumas das quais chegaram ate nós. Nelas Ignácio repete com freqüência este conceito: “Não lhes dou ordem ou mandamento como fizeram Pedro e Paulo, porque eu não sou apóstolo para condenar os homens”. Ainda que era bispo, Ignácio enfatizava que não era apóstolo nem tinha a mesma autoridade que eles. É de se esperar que nós entendamos este conceito com a mesma claridade.
Se houvesse hoje pessoas com a mesma autoridade que aqueles primeiros apóstolos, deveríamos agregar seus ensinamentos ao novo Testamento e toda a igreja estaria comprometida a os aceitar e obedecer. Porem ninguém tem a autoridade comparável à dos doze e Paulo. Devemos distinguir entre os apóstolos da igreja, dos quais existem muitos ao redor do mundo hoje, e aqueles apóstolos de Cristo.
Por John Stott, livro Sinais de uma igreja viva.
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