I
A primeira vez que o vi eu tinha doze anos de idade e morava em uma cidadezinha do interior do Paraná. Foi num campinho de futebol, a uma quadra da minha casa. Eu estava jogando bola com uns amigos, quando vi, no portão, um homem que olhava fixamente para mim. Senti um medo grande, acompanhado de um calafrio, porém, continuei jogando, mas sem deixar de notar a insistência do olhar daquele homem. Como se eu previsse, ele fez um sinal chamando-me até lá. Eu fui. Apresentou-se com seu nome, Luiz, dizendo ser o dono de um pequeno jornal da cidade e que já havia nos visto jogar bola várias vezes ali e isto tinha despertado-lhe o interesse de montar um time de futebol de salão para o seu jornal, com o objetivo de divulgá-lo. Ele me perguntou se nós estaríamos interessados em tal proposta e eu respondi que sim. Ali estava sendo selado um pacto, involuntário, para o meu futuro. E este foi meu primeiro contato com um Sacerdote da Tradição. Podemos dizer que eu era um típico “menino bobo” de cidadezinha do interior: magrinho, feio, pobre, tímido, sem nenhum atrativo. No colégio ninguém me respeitava, muito pelo contrário, zombavam e até me batiam. Eu era um garoto bastante frustrado, com pais separados e com um irmãozinho de cinco anos pra criar. Meu avô foi um Sacerdote Superior da Tradição, mas eu nunca soubera. Ele era espírita, “curandeiro” e pai de santo (onde atuava num centro de umbanda próprio). Quando ele incorporava os demônios, que se intitularam “entidades”, ele crescia uns oito ou dez centímetros a mais e as cobras e os sapos que existiam naquela região montanhosa vinham aos seus pés. Minha avó ora era espírita, ora católica, ora seicho-no-ie, ora messiânica, no que minha mãe a seguiu nesta miscelânea de religiões e seitas. Eu nunca havia ido a uma igreja. O diabo fez o que quis na minha família...
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